Há dois ditados populares que traduzem o trabalho de todo pesquisador: "Nem tudo que reluz é ouro" e "Quem vê cara não vê coração". A idéia é que, por trás de um preconceito, existe sempre uma verdade capaz de surpreender. Quer exemplos?
por Lucília Diniz
Quem valoriza a vida saudável adora falar mal dos fast-foods. E realmente não faltam motivos para isso. Apontá-los como responsáveis pelo crescimento da obesidade em todo mundo já soa como “chover no molhado”. Até o príncipe Charles entrou nessa onda há alguns meses, dizendo que gostaria de ver o McDonald’s banido do Reino Unido. E olha que, além de magro, ele é diplomático de nascença.
Na minha percepção, o foco está equivocado. Uso os fast-foods não só no Brasil. Afinal, quando estive na Ásia, onde vocês acham que eu tinha confiança de comer folhas verdinhas e crocantes na Tailândia, China ou Cingapura? No McDonald’s, claro.
Em palestra recente, promovida por um grande instituto de pesquisa de mercado, surgiu a informação que o McDonald’s foi apontado como o maior vendedor de saladas no Brasil.
Fiquei feliz em saber que mais pessoas partilhavam minha idéia.
Há outros exemplos na contramão dessa história. Há alimentos percebidos como saudáveis, mas que, na verdade, são gordos.
Pense na mussarela comum e na mussarela de búfala. Qual delas você indicaria para uma pessoa acima do peso? Ao contrário do que muita gente crê, o leite de búfala tem muito mais gordura do que o leite de vaca. Não é à toa que o animal é mais gordo.
Lucília fala do leite de búfala
A mussarela de búfala, embora branquinha, tem 110 calorias por porção de 30 gramas. Está, portanto, bem distante de outros queijos brancos, como a ricota (60 calorias) e o queijo-de-minas (80 calorias). Seu valor calórico se equipara ao dos queijos Estepe e Gruyère, e ultrapassa o dos queijos Provolone (90 calorias) e Gorgonzola (95 calorias). A única vantagem do leite de búfala reside na qualidade de sua gordura: tem baixo teor de colesterol se comparada à do leite de vaca.
Mas quem quer emagrecer deve ir atrás de outras opções.
Há também aqueles alimentos que não entregam aquilo que fizeram deles famosos. Quer um exemplo? Diga qual é a verdura que nos deixa mais fortes?
Ora, todo mundo que já assistiu a um desenho do Popeye imagina que o espinafre tem uma imensa força escondida.
Espinafre: um erro centenário
O que poucos sabem é que o marinheiro estava errado. O cartunista e desenhista criador do personagem foi mal informado pelo estúdio em que trabalhava. Depois de pesquisarem a quantidade de ferro presente em cada alimento, alguém cometeu um erro de transcrição, que mostrava o espinafre contendo dez vezes mais ferro do que as verduras similares. Sabe aquela confusão de pôr a vírgula antes ou depois do zero? Pois é, gente. Uma geração inteira de pessoas acabou sendo mal-informada por conta desse erro.
Quando finalmente descobriram, o mundo inteiro já estava se divertindo com as peripécias do bochechudo que engolia espinafre pelo cachimbo, sem saber que sua coragem era fruto de efeito placebo. (rs). Não que o espinafre seja ruim. Ele só é igual às outras verduras.
Enfim, quando falamos em “reeducação alimentar”, precisamos não só pensar no “alimentar” como também no sentido da palavra “reeducação”: ter curiosidade para buscar, e checar, toda informação que recebemos nessa vida.
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